sexta-feira, 31 de maio de 2013

O nó da baixa produtividade...

Vários indicadores apontam que o brasileiro é menos produtivo que os trabalhadores de muitos países.

À parte as críticas aos métodos de comparação, é fato que o país precisa investir mais em inovação e tecnologia, e diminuir o gap da educação, se quiser ser mais competitivo.
Os dados são sempre alarmantes quando o assunto é a produtividade do trabalhador brasileiro.

Em reportagem publicada em outubro do ano passado, sob o título “Brasil leva surra dos EUA em produtividade: como melhorar?”, a revista Exame afirmava que o trabalhador brasileiro em média gera um quinto da riqueza gerada pelo norte-americano.

Outro indicador, que repercutiu na imprensa em março do ano passado, foi o da instituição de pesquisa norte-americana The Conference Board, segundo o qual o Brasil ocupa o 15º. Lugar entre os 17 países da América Latina pesquisados sobre produtividade. Pior: aparece na 75ª. Posição no ranking mundial.

Em recente boletim publicado pelo IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, o artigo Breve Notas sobre Escassez de Mão de Obra, Educação e Produtividade do Trabalho, de autoria dos técnicos de planejamento e pesquisa Paulo A. Meyer M. Nascimento, Divonzir Arthur Gusso e Aguinaldo Nogueira Maciente, afirma que a produtividade do trabalho no Brasil é “historicamente baixa, manifestando muito pouco crescimento ao longo dos anos. Medida em termos de Produto Interno Bruto  (PIB) por pessoal ocupado, a produtividade do trabalho brasileira é três vezes menor que na Coreia do Sul, quatro vezes menor que na Alemanha e cinco vezes menor que nos Estados Unidos”.

Segundo os autores, “ganhos de produtividade dependem de uma gama ampla e complexa de condições econômicas, tecnológicas e institucionais, entre as quais figura, por certo, a disponibilidade de recursos humanos com as necessárias competências. E estas precisam ser entendidas como atributos cognitivos, de habilidades físicas e motoras, de qualificações técnicas – que incluem conhecimento tácito – e de relacionamento social e organizacional, para os quais contribuem, em parte importante, mas não exclusiva, os conhecimentos e padrões de sociabilização adquiridos na educação escolar”.

O gap educacional do país é, assim, apontado como um dos fatores que afetam a produtividade do trabalhador brasileiro.

Segundo dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve crescimento das taxas de escolarização como o aumento do nível do rendimento mensal domiciliar per capita.

Apesar disso, considerando as pessoas de 25 anos ou mais de idade, 49,3% disseram ser sem instrução ou não ter sequer concluído o ensino fundamental.

“O mercado de trabalho está crescendo em volume.Já estamos tecnicamente em pleno emprego.Mas, por conta da escassez de investimentos em formação no passado, temos a escassez de mão de obra, principalmente técnica”, lembra o consultor Daniel Castello, que é integrante do Comitê RH de Apoio Legislativo, grupo de especialistas ligado à Seccional São Paulo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), cujo objetivo é analisar e trabalhar para influenciar as leis que afetam as relações de trabalho.

Castelo alerta também para o problema da rotatividade, que, para ele, já atinge todos os setores. “Quanto maior a rotatividade, menor a produtividade.

A rotatividade implica perda de conhecimento e de performance, pois temos muitos funcionários iniciando o trabalho, o tempo todo, o que acarreta na “juniorização” do mercado.

O estudo Custo do Trabalho no Brasil – Proposta de uma nova metodologia de mensuração, desenvolvido pelo Centro de Microeconomia Aplicadada (C-Micro) da Fundação Getúlio Vargas/Escola de Economia de São Paulo (FGV/EESP), aponta que o custo de um trabalhador pode ser de 2,83 vezes o salário da carteira dele (aumento de 183%), no caso de um vínculo com doze meses de duração.

Entretanto, esse valor pode cair para 2,55 vezes (ou 155%) se o vínculo de estender por cinco anos.

Tal redução deve-se a diversos fatores relacionados ao elevado peso que a rotatividade tem no custo do trabalho.

"Fatores como aviso prévio indenizado, multa do FGTS e investimentos em treinamento e formação específicos, o custo associado ao diferencial da produtividade inicialmente menor (os empregados não conseguem trabalhar em seu nível ótimo no início do vínculo) são diluídos ao longo do tempo, por isso aqueda do custo conforme aumenta a duração do vínculo”, afirmam os autores do estudo.

Outro fator crítico para a baixa produtividade é a falta de investimentos em equipamentos tecnologia e inovação.

O número de patentes concedidas no país e requisitadas pelas empresas brasileiras todos ao anos, por exemplo, é bem inferior ao de países como China e Estados Unidos.

Embora concorde que os níveis de produtividade venham caindo em decorrência do baixo investimento em geral e do baixo investimento em maquinários e tecnologia, o coordenador de Relações sindicais do Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, José Silvestre Prado de Oliveira, questiona as comparações que se utilizam apenas de critérios únicos para medir a produtividade, como, por exemplo, o PIB dividido por pessoal ocupado.

Segundo ele, é preciso considerar outras variáveis, como remuneração, condições e jornada de trabalho, e, principalmente, a diferença entre os setores, sem generalizar.

“A produtividade do etanol brasileiro, que é a base de cana-de-açúcar, é tão elevada quanto a produtividade do etanol norte-americano, baseada no milho. Há também outros setores que empregam uma mão de obra qualificada e têm alta produtividade.”

Castelo concorda: "Essas comparações são alarmistas, porque falam do agregado, sem isolar os setores”.

Oliveira acredita que muito desse debate é gerado por aqueles que defendem que o salário não pode crescer mais que a produtividade, porque diminui os lucros das empresas e sua capacidade de investimentos, e questiona ainda outro aspecto que sempre fica ausente das discussões sobre o tema: “Nunca se diz que o crescimento da produtividade deveria ser partilhado entre o capital, os trabalhadores e a sociedade, ao retornar em termos de melhoria nos produtos e serviços. Esse é um ângulo que precisa ser incorporado ao debate”.


Extraído da revista Administrador Profissional

Tadeu Artur Cavedem
FuturaMente – Treinamento, Assessoria e Consultoria Ltda.
www.futuramente.com.br
contato@futuramente.com.br
Telefones: 11 4023-2038
Celular:  11 9 9989-4865

Nenhum comentário:

Postar um comentário