À parte as críticas aos métodos de comparação, é fato que o
país precisa investir mais em inovação e tecnologia, e diminuir o gap da
educação, se quiser ser mais competitivo.
Os dados são sempre alarmantes quando o assunto é a
produtividade do trabalhador brasileiro.
Em reportagem publicada em outubro do ano passado, sob o
título “Brasil leva surra dos EUA em produtividade: como melhorar?”, a revista Exame afirmava que o trabalhador
brasileiro em média gera um quinto da riqueza gerada pelo norte-americano.
Outro indicador, que repercutiu na imprensa em março do ano
passado, foi o da instituição de pesquisa norte-americana The Conference Board, segundo o qual o Brasil ocupa o 15º. Lugar entre
os 17 países da América Latina pesquisados sobre produtividade. Pior: aparece
na 75ª. Posição no ranking mundial.
Em recente boletim publicado pelo IPEA – Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas, o artigo Breve Notas sobre Escassez de Mão de Obra,
Educação e Produtividade do Trabalho, de autoria dos técnicos de planejamento e
pesquisa Paulo A. Meyer M. Nascimento, Divonzir Arthur Gusso e Aguinaldo
Nogueira Maciente, afirma que a produtividade do trabalho no Brasil é “historicamente
baixa, manifestando muito pouco crescimento ao longo dos anos. Medida em termos
de Produto Interno Bruto (PIB) por
pessoal ocupado, a produtividade do trabalho brasileira é três vezes menor que
na Coreia do Sul, quatro vezes menor que na Alemanha e cinco vezes menor que
nos Estados Unidos”.
Segundo os autores, “ganhos de produtividade dependem de uma
gama ampla e complexa de condições econômicas, tecnológicas e institucionais,
entre as quais figura, por certo, a disponibilidade de recursos humanos com as
necessárias competências. E estas precisam ser entendidas como atributos
cognitivos, de habilidades físicas e motoras, de qualificações técnicas – que incluem
conhecimento tácito – e de relacionamento social e organizacional, para os
quais contribuem, em parte importante, mas não exclusiva, os conhecimentos e
padrões de sociabilização adquiridos na educação escolar”.
O gap educacional
do país é, assim, apontado como um dos fatores que afetam a produtividade do
trabalhador brasileiro.
Segundo dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), houve crescimento das taxas de escolarização como
o aumento do nível do rendimento mensal domiciliar per capita.
Apesar disso, considerando as pessoas de 25 anos ou mais de
idade, 49,3% disseram ser sem instrução ou não ter sequer concluído o ensino
fundamental.
“O mercado de trabalho está crescendo em volume.Já estamos tecnicamente em pleno emprego.Mas, por conta da escassez de investimentos em formação no
passado, temos a escassez de mão de obra, principalmente técnica”, lembra o
consultor Daniel Castello, que é integrante do Comitê RH de Apoio Legislativo,
grupo de especialistas ligado à Seccional São Paulo da Associação Brasileira de
Recursos Humanos (ABRH-SP), cujo objetivo é analisar e trabalhar para
influenciar as leis que afetam as relações de trabalho.
Castelo alerta também para o problema da rotatividade, que,
para ele, já atinge todos os setores. “Quanto maior a rotatividade, menor a
produtividade.
A rotatividade implica perda de conhecimento e de
performance, pois temos muitos funcionários iniciando o trabalho, o tempo todo,
o que acarreta na “juniorização” do mercado.
O estudo Custo do Trabalho no Brasil – Proposta de uma nova
metodologia de mensuração, desenvolvido pelo Centro de Microeconomia Aplicadada
(C-Micro) da Fundação Getúlio Vargas/Escola de Economia de São Paulo
(FGV/EESP), aponta que o custo de um trabalhador pode ser de 2,83 vezes o
salário da carteira dele (aumento de 183%), no caso de um vínculo com doze
meses de duração.
Entretanto, esse valor pode cair para 2,55 vezes (ou 155%)
se o vínculo de estender por cinco anos.
Tal redução deve-se a diversos fatores relacionados ao
elevado peso que a rotatividade tem no custo do trabalho.
"Fatores como aviso prévio indenizado, multa do FGTS e
investimentos em treinamento e formação específicos, o custo associado ao
diferencial da produtividade inicialmente menor (os empregados não conseguem
trabalhar em seu nível ótimo no início do vínculo) são diluídos ao longo do
tempo, por isso aqueda do custo conforme aumenta a duração do vínculo”, afirmam
os autores do estudo.
Outro fator crítico para a baixa produtividade é a falta de
investimentos em equipamentos tecnologia e inovação.
O número de patentes concedidas no país e requisitadas pelas
empresas brasileiras todos ao anos, por exemplo, é bem inferior ao de países
como China e Estados Unidos.
Embora concorde que os níveis de produtividade venham caindo
em decorrência do baixo investimento em geral e do baixo investimento em
maquinários e tecnologia, o coordenador de Relações sindicais do Dieese –
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, José Silvestre
Prado de Oliveira, questiona as comparações que se utilizam apenas de critérios
únicos para medir a produtividade, como, por exemplo, o PIB dividido por
pessoal ocupado.
Segundo ele, é preciso considerar outras variáveis, como
remuneração, condições e jornada de trabalho, e, principalmente, a diferença
entre os setores, sem generalizar.
“A produtividade do etanol brasileiro, que é a base de
cana-de-açúcar, é tão elevada quanto a produtividade do etanol norte-americano,
baseada no milho. Há também outros setores que empregam uma mão de obra
qualificada e têm alta produtividade.”
Castelo concorda: "Essas comparações são alarmistas, porque
falam do agregado, sem isolar os setores”.
Oliveira acredita que muito desse debate é gerado por
aqueles que defendem que o salário não pode crescer mais que a produtividade,
porque diminui os lucros das empresas e sua capacidade de investimentos, e
questiona ainda outro aspecto que sempre fica ausente das discussões sobre o
tema: “Nunca se diz que o crescimento da produtividade deveria ser partilhado
entre o capital, os trabalhadores e a sociedade, ao retornar em termos de
melhoria nos produtos e serviços. Esse é um ângulo que precisa ser incorporado
ao debate”.
Extraído da revista Administrador Profissional
FuturaMente – Treinamento, Assessoria e Consultoria Ltda.
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